21 março 2010

A Priimavera chegou...






A Primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba o seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.
A inclinação do sol vai marcando outras sombras; e os habitantes da mata, essas criaturas naturais que ainda circulam pelo ar e pelo chão, começam a preparar a sua vida para a Primavera que chega.

Finos clarins que não ouvimos devem soar por dentro da terra, nesse mundo confidencial das raízes, — e arautos subtis acordarão as cores e os perfumes e a alegria de nascer, no espírito das flores.

Há bosques que eram verdes e já estão todos cor-de-rosa, como os palácios de Jeipur.
Vozes novas de passarinhos começam a ensaiar as árias tradicionais da sua nação.

Pequenas borboletas brancas e amarelas apressam-se pelos ares, — e certamente conversam: mas tão baixinho que não se entende.

Oh! Primaveras distantes, depois do branco e deserto Inverno, quando as amendoeiras inauguram suas flores alegremente, e todos os olhos procuram pelo céu o primeiro raio de sol.

Esta é uma Primavera diferente, com as matas intactas, as árvores cobertas de folhas, — e só os poetas, entre os humanos, sabem que uma Deusa chega, coroada de flores, com vestidos bordados de flores, com os braços carregados de flores, e vem dançar neste mundo cálido, de incessante luz.

Mas é certo que a Primavera chega.
É certo que a vida não se esquece, e a terra maternalmente se enfeita para as festas da sua perpetuação.

Algum dia, talvez, nada mais vai ser assim.
Algum dia talvez, os homens terão a Primavera que desejarem, no momento que quiserem, independentes deste ritmo, desta ordem, deste movimento do céu.
E os pássaros serão outros, com outros cantos e outros hábitos, — e os ouvidos que por acaso os ouvirem não terão nada mais com tudo aquilo que, outrora se entendeu e amou.

Enquanto há Primavera, esta Primavera natural, prestemos atenção ao sussurro dos passarinhos novos, que dão beijinhos para o ar azul.
Escutemos estas vozes que andam nas árvores, caminhemos por estas estradas que ainda conservam seus sentimentos antigos.
Os casulos brancos das gardénias ainda estão sendo enrolados em redor do perfume. E flores agrestes acordam com suas roupas de chita multicor.

Tudo isto para brilhar um instante, apenas para ser lançado ao vento, — por fidelidade à obscura semente, ao que vem, na rotação da eternidade.
Saudemos a Primavera dona da vida — e efémera.

(Cecília Meireles)


3 comentários:

Graça disse...

Bom dia Linda
E finalmente chegou a Primavera...vamos sauda-la !!Belo este texto de C. Meireles!!
Fica bem, fica com Deus,
bjinhos muitos e doces,
Graça

maresia disse...

Tao bonito o teu blog Anita!
Desejo que tenhAS COMEÇADO BEM A SEMANITA AMIGA
BESITO

maresia disse...

Tao bonito o teu blog Anita!
Desejo que tenhAS COMEÇADO BEM A SEMANITA AMIGA
BESITO

prémios e miminhos ganhos