Sozinhos na corrida

Ano após ano o número de mulheres viúvas aumenta.

Sabemos que, de modo geral, as mulheres têm uma maior longevidade do que os homens.

O seu organismo foi criado de forma a resistirem o tempo suficiente para serem mães e criarem os seus filhos e até, quantas vezes, os seus netos.

Por outro lado, nascem mais homens que mulheres, mas morrem mais rapazes durante o 1º. ano de vida do que raparigas.



Na idade adulta acaba por haver um equilíbrio nos números, mas ainda assim morrem mais homens de acidente do que mulheres; durante os períodos de guerra são os homens que avançam para a frente de batalha, por isso correm mais riscos do que as mulheres.


Actualmente há mais mulheres do que homens.

E entre todas essas mulheres, algumas são viúvas.

Elas inspiram-nos um carinho especial.

Precisam de ajuda.

Precisam de alguém que as ouça e que lhes dê alguma atenção e alguns minutos.





Às vezes precisam desesperadamente que alguém lhes diga:



Não desanime. O Senhor vai continuar a cuidar de si. Confie Nele.

Vou orar por si. Posso passar por sua casa um dia destes para uma visita rápida?

Quer vir tomar um chá comigo? Precisa que a leve às compras?

Quer que vá consigo ao médico? Quer companhia para ir arranjar o cabelo? etc, etc,etc...


E as viúvas também precisam de uma amiga que tenha a coragem de pousar o braço sobre os seus ombros e deixá-la chorar as suas lágrimas... Lágrimas. As lágrimas dos outros perturbam a nossa tranquilidade.

Não gostamos de tratar directamente com a dor alheia.

Somos capazes de falar sobre ela, mas preferimos não a enfrentar.

Ficamos desconfortáveis. Não sabemos o que dizer. Não sabemos o que fazer.

Às vezes basta estar presente.


Também há homens viúvos, que tendemos a esquecer.

Eles engolem a sua dor com as suas lágrimas abafadas no mais profundo silêncio.

Não suportam voltar para casa no fim de cada dia e não ter a esposa à espera com o jantar na mesa, com as crianças a brincar alegres e em segurança. Ela faz tanta falta!

Não é só o seu lugar vazio, é também tudo o que significa fazer: a desordem que se instala na vida: as surpresas que não acontecem mais; o som doce da sua voz meiga que desaparece; o seu toque especial na casa, na comida, nas roupas guardadas nas gavetas, prontas a usar, nas malas que precisam ser feitas antes das viagens e até mesmo no cesto de piquenique que já não interessa.


E, no entanto, é necessário tirar forças de toda essa fraqueza que nos envolve quando sofremos uma perda assim.

Ficamos cá e temos de continuar aqui até que Deus queira.

Temos de encontrar um novo rumo e deixar Deus preencher o vazio da alma; viver um dia só de cada vez, e encontrar paz na solidão da dor, e equilíbrio para cuidar dos que ficaram sem a mãe ou sem o pai.


Continuar.

Seguir em frente como um maratonista solitário, visualizando mentalmente a meta, sentindo de antemão o alívio da chegada, imaginando a multidão a acenar de alegria, antecipando o descanso merecido.


Haverá sim, haverá uma multidão à tua espera na linha de chegada.

Uma multidão que irá acenar e chamar pelo teu nome.

Uma multidão que te abraçará com uma alegria impossível de descrever em termos humanos. E os teus olhos verão o Senhor: a recompensa maior.





Entretanto lembra-te de que o tempo da partida não está assim tão distante. De facto, o tempo da nossa partida sempre está próximo.

Nesse sentido, por mais solitária que seja a tua corrida, olha em volta: afinal não estás a correr sózinho...


"(.:.) o tempo da minha partida está próximo. Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, justo juíz me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda".


2 Timóteo 4:6-8