20 outubro 2008

A telha de vidro




Nem sempre a vida segue o curso que se deseja, que se espera. Assim foi com Raquel.
Depois da morte de seus pais ela, ainda bem moça, deixou a cidade em que nascera para morar na quinta, com os tios que mal conhecia.
Iria morar na casa que havia sido construída por seu bisavô, há muito tempo.
Era uma casa muito antiga e a maior parte de seus móveis eram peças pesadas e escuras que ali estavam há mais tempo do que as pessoas saberiam dizer.
Seus tios eram pessoas simples, acostumados com a vida que sempre viveram, desconfiados com tudo que pudesse alterar a rotina que lhes dava segurança.
A chegada de Raquel representou para eles um certo transtorno. Onde ficaria instalada a menina?
Como não havia um quarto mais apropriado deram-lhe um quarto pequeno, que ficava no sótão.
Nem o tamanho reduzido, nem o cheiro a mofo incomodaram Raquel. O que lhe entristecia naquele quartinho abafado era apenas o facto de não ter janelas.
Não se podia ver o sol, nem o céu, nem as árvores do quintal ou as flores do jardim.
A luz limitava-se a entrar timidamente pela porta. A falta de claridade naquele quartinho parecia encher ainda mais de tristeza o coração dolorido da moça.
Até que um dia, depois de muito ter chorado em silêncio, Raquel decidida a voltar a sorrir, pediu que lhe trouxessem da cidade uma telha de vidro.
Um pouco desconfiados, seus tios acabaram cedendo.
Daí, um milagre aconteceu. Mesmo sem janelas o quarto de Raquel antes tão sombrio, passou a ser a peça mais alegre da quinta. Tão claro que ao meio-dia, aparecia uma renda de arabesco de sol nos ladrilhos vermelhos, que só a partir de então conheceram a luz do dia.
A lua branda e fria também se mostrava às vezes pelo clarão da telha milagrosa. E algumas estrelas audaciosas arriscaram surgir no espelho onde a moça se penteava.
O quartinho que era feio e sem vida, fazendo os dias de Raquel cinzentos, frios, sem luar e sem clarão agora estava tão diferente. Passou a ser cheio de claridade, luzes e brilho. Raquel voltou a sorrir. Toda essa mudança só porque um dia ela, insatisfeita com a própria tristeza, decidiu colocar uma telha de vidro no telhado daquela casa antiga, trazendo para dentro da sua vida a luz e a alegria que faltavam.





Muitas vezes presos a hábitos antigos e em situações consolidadas, deixamos de lado verdades que nos fazem felizes. Deixamos que a ausência de janelas em nossa vida escureça nossas perspectivas, enchendo de sombras o nosso sorriso e o nosso quotidiano.
Vamos nos acomodando, aceitando estruturas que sempre foram assim e que ninguém pensou em alterar, ou que não se atreveu a tanto.
Mudanças e reformas são necessárias e sadias. Nem todas dão certo, ou surtem o efeito que desejaríamos porém, cabe-nos avaliar a realidade em que nos encontramos e traçar metas para buscar as melhorias pretendidas.
Não podemos esquecer porém, que em busca de nossos sonhos de felicidade não devemos simplesmente passar por cima do direito dos outros.
Nesse particular, cabe-nos lembrar a orientação sempre segura de Jesus, que devemos fazer aos outros aquilo que gostaríamos que nos fizessem.

Baseado no poema Telha de Vidro de Rachel de Queiroz

6 comentários:

Pelos caminhos da vida. disse...

Mudanças em geral sempre são bem vindas.

Boa noite amiga.

beijooo.

Marlene Maravilha disse...

Gostei muito querida amiga!
Acho que as perspectivas de mudanca sao aliadas a esperanca de alcancar o objetivo muitas vezes sonhado!
Deus abencoe o teu dia!!!

Viviana disse...

Olá querida Anita,

Que história interessante!

È, ás vezes basta "uma telha de vidro" para fazer toda a diferença.

Que possamos adaptar isto á nossa vida.

Tenha um lindo dia
Viviana

Andreia disse...

Bonito conto!

o que me vier à real gana disse...

Muito bom!

Xicha disse...

Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto e eu vou dizer que mudanças são sempre uma forma de aprender , por isso o mehor é aceitar sempre essas mudanças sejam elas boas ou más fazem parte do nosso percurso por aqui , Grande beijoca para amiga Anita e seus familiares , gosto muito de todos , tudo de bom e a correr bem
abracinhos
XI

prémios e miminhos ganhos