24 junho 2009

Vida






Por norma não gosto de publicar mensagens muito grandes, pois tenho sempre a sensação que muitos não as irão ler por serem grandes, mas esta eu acho que vale a pena dispensarmos uns minutinhos, poucos, porque eu acho que ela irá mexer connosco, para além de ter sido baseada num facto verídico.







Naquela manhã, sentiu vontade de dormir mais um pouco.
Estava cansado porque na noite anterior fora deitar-se muito tarde e também não tinha dormido bem.
Teve um sono agitado. Mas logo abandonou a ideia de ficar um pouco mais na cama e levantou-se, pensando na montanha de coisas que precisava fazer na empresa.
Lavou o rosto e fez a barba correndo automaticamente.
Não prestou atenção no rosto cansado nem nas olheiras escuras, resultado das noites mal dormidas.
Nem sequer percebeu um aglomerado de pêlos teimosos que escaparam da lâmina de barbear.
"A vida é uma sequência de dias vazios que precisamos preencher", pensou enquanto jogava a roupa por cima do corpo.
Engoliu o café da manhã e saiu resmungando baixinho "um bom dia", sem convicção.
Desprezou os lábios da esposa, que se ofereciam para um beijo de despedida.
Não notou que os olhos dela ainda guardavam a doçura de mulher apaixonada, mesmo depois de tantos anos de casamento.
Não entendia porque ela se queixava tanto da ausência dele e vivia reivindicando mais tempo para ficarem juntos.
Ele estava conseguindo manter o elevado padrão de vida da família, não estava? Isso não bastava?
Claro que não teve tempo para aquecer o carro nem sorrir quando o cachorro, alegre, abanou o rabo.
Deu a partida e acelerou.
Ligou o rádio, que tocava uma canção antiga e pensou que não tinha mais tempo para curtir detalhes tão pequenos da vida.
Pegou o telemóvel e ligou para a filha. Sorriu quando soube que o netinho havia dado os primeiros passos.
Ficou sério quando a filha lhe lembrou que há tempos que ele não aparecia para ver o neto e o convidou para almoçar.
Ele logo contrapôs bastante: sabia que iria gostar muito de estar com o neto, mas não podia naquele dia, dar-se ao luxo de sair da empresa.
Agradeceu o convite, mas respondeu que seria impossível.
Quem sabe no próximo fim de semana?
Ela insistiu, disse que sentia muitas saudades e que gostaria muito de poder estar com ele na hora de almoço.
Mas ele foi irredutível: realmente era impossível.
Chegou à empresa e mal cumprimentou as pessoas.
A agenda estava totalmente lotada, e era muito importante começar logo a atender seus compromissos, pois tinha plena convicção de que pessoas de valor não desperdiçam seu tempo com conversa fiada.
No que seria sua hora de almoço, pediu para a secretária trazer um sanduíche e um refrigerante diet.
O colesterol estava alto, precisava fazer um check-up, mas isso ficaria para o mês seguinte.
Começou a comer enquanto lia alguns papéis que usaria na reunião da tarde.
Nem observou que tipo de almoço estava mastigando.
Enquanto engolia relacionava os telefonemas que deveria fazer, sentiu uma tontura, a vista embaçou.
Lembrou-se do médico advertindo-o, alguns dias antes, quando tivera os mesmos sintomas, de que estava na hora de fazer um check-up.
Mas ele logo concluiu que era um mal-estar passageiro.
Terminado "o almoço", escovou os dentes e voltou à sua secretária.
"A vida continua", pensou.
Mais papéis para ler, mais decisões a tomar, mais compromissos a cumprir. Nem tudo saia como ele queria.
Começou a gritar com o gerente, exigindo que este cumprisse o prometido. Afinal, ele estava sendo pressionado pela directoria. Tinha de mostrar resultados. Será que o gerente não conseguia entender isso?
Saiu para uma reunião já meio atrasado.
Não esperou pelo elevador. Desceu as escadas pulando de dois em dois degraus.
Parecia que a garagem estava a quilómetros de distância, encravada no miolo da terra, e não no subsolo do prédio.
Entrou no carro, deu a partida e, quando ia engatar a primeira mudança, sentiu de novo o mal-estar.
Agora havia uma dor forte no peito. O ar começou a faltar... a dor foi aumentando... o carro desapareceu... os outros carros também... Os pilares, as paredes, a porta, a claridade da rua, as luzes do tecto, tudo foi sumindo diante de seus olhos, ao mesmo tempo em que surgiam cenas de um filme que ele conhecia bem.
Era como se a videocassete estivesse rodando em câmara lenta.
Quadro a quadro, ele via a esposa, o netinho, a filha e, uma após outra, todas as pessoas que mais gostava.
Porquê mesmo que ele não tinha ido almoçar com a filha e o neto?
O que a esposa tinha dito à porta de casa quando ele estava saindo, hoje de manhã?
Porque não foi pescar com os amigos no último feriado?
A dor no peito persistia, mas agora outra dor começava a perturbá-lo: a dor do arrependimento.
Ele não conseguia distinguir qual era a mais forte, a da coronária entupida ou a de sua alma rasgando.
Escutou o barulho de alguma coisa quebrando dentro de seu coração, e de seus olhos escorreram lágrimas silenciosas.
Queria viver, queria ter mais uma oportunidade, queria voltar para casa e beijar a esposa, abraçar a filha, brincar com o neto... queria... queria... mas não teve tempo.





Como está a sua vida? Qual o tempo que tem dedicado às coisas pequenas mas importantes da vida?
E Deus, em que lugar você o coloca?
Será que...?


Lembre-se, são poucas as pessoas que têm uma segunda e "nova oportunidade" de vida para mudar e...

Pense nisso.





8 comentários:

Graça disse...

Anita minha amiga,
mensagem grande mas muito pertinente para trazer todas as emoções cá para fora e pensar..em boa verdade há pequenas grandes coisas da minha vida k por uma questão de tempo, de comodidade etc, ás vezes ficam por fazer... Deus está na minha vida,como meu Pai adorado,mas fazendo também Ele parte integrante de minha vida, tb há coisas k ficam por fazer !!!

Obrigada por nos ajudares, mais uma vez, a fazer este exercício de reflexão, com as tuas sempre belas palavras...
Bjs de luz,
Graça

Pelos caminhos da vida. disse...

Uma reflexão que devemos parar e aproveitar mais a vida junto com as pessoas que amamos.

Vou levar a flor e postá-la no blog presente,te convido para aparecaer por lá.

beijooo.

Maria Clarinda disse...

Obrigada Amiga pelo post...faz-nos sair a pensar sim...
E como dá!!!Devemos sim viver intensamente cada momentgo como dse fosse o ultimo...apreciar toda a beleza que nos rodeia...amar e mostrar esse amor.
Jinhos muitos

Viviana disse...

Querida nita

Muio interessante e actual este texto.

È sempre bom lembrar...

amiga linda

Informo-a que tem um presentinho lá no mu cantinho.

um beijo

viviana

Pelos caminhos da vida. disse...

Bom dia Anita.

Tem prêmio pra vc no blog presente.

beijooo

carmen disse...

Lindo, lindo e nos faz repensarmos nossas prioridades...
bjs

neide disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
neide disse...

Anita querida, cheguei hoje de viagem e estou passando só pra deixar beijinhos... depois venho e faço o que mais gosto, te ler.

Bjss amiga, fica com Deus.

prémios e miminhos ganhos